Friday 2 August 2013

Biografia

Merleau-Ponty nasce em 14 de março de 1908, em Rochefort sur Mer, em França. Falece em Paris aos 53 anos, em 3 de maio de 1961, vítima de um ataque cardíaco. Estuda e gradua-se em filosofia na École Normal Supérieure em 1930; instituição onde conhece Jean Paul Sartre. Depois de exercer o cargo de professor nos Liceus de Beauvais (1931-1933) e de Chartres (1934-1935), é nomeado “agrégé-répétiteur” na École Normal Supérieure, onde ensina de 1935 a 1939.

Por: Fábio Di Clemente

Com a eclosão da guerra, serve o exército francês como oficial de infantaria. Desmobilizado o exército francês por causa da ocupação alemã, volta a ensinar em alguns Liceus em Paris. Durante a Segunda Guerra Mundial, com Sartre, forma um pequeno grupo chamado “Socialismo e liberdade”, para lutar contra a ocupação nazista. Terminada a guerra, passa a lecionar na Universidade de Lyon (1945). Com Sartre, em 1945 funda o importante periódico político-literário “Les Temps Modernes”; iniciativa editorial que causa em seguida entre os dois amigos tensões, silêncios, afastamentos. Em 1948, novamente com Sartre, Merleau-Ponty funda um novo partido político socialista, o RDR (Reunião Democrática Revolucionária), com o intuito de não se identificar nem com o comunismo, nem com o anticomunismo. O partido teve pouco êxito diante do então dominante PCF (Partido Comunista Francês).

De 1949 a 1952, leciona na Sorbonne. Desse ensino resultam cursos de grande abrangência, com ênfase em questões de relevância psicológica, psicanalítica, pedagógica, antropológica e sociológica. Em 1952, obtém a cátedra de filosofia no Collège de France, a maior instituição universitária francesa, onde leciona até o ano de sua morte. A filosofia de Merleau-Ponty alimenta-se, entre outras tantas fontes, do diálogo contínuo com a chamada filosofia clássica francesa e com Edmund Husserl e Martin Heidegger, assim como das pesquisas provenientes de outras áreas, entre as quais cabe destacar a psicologia (em particular, os estudos da psicologia da forma e da psicologia da criança), a psicanálise, a linguística (em particular, a de Fernand de Saussure), as pesquisas da física moderna e em âmbito biológico (em particular, os estudos zoológicos de Jakob von Uexküll, de anatomia do comportamento de George Ellett Coghill, de embriologia do comportamento de Arnold Gesell e Catherine Strunk Amatruda).

Como muitos outros jovens intelectuais franceses do final dos anos 30, interessa-se pela dialética de Hegel e do jovem Marx, cujos escritos conduzem a voltar, após a Primeira Guerra Mundial, à questão do humanismo. Mas, como poucos, empreende o caminho da “paciência do conceito”, para poder pensar o “conceito sem destruí-lo” nas várias áreas, como as das ciências naturais, sociais e humanas, da literatura, das artes plásticas, do cinema. Diante do “discurso confuso” da história, tanto da história das ideias como dos povos, lida com as descobertas científicas, reabilitando o diálogo com as “provocações” da ciência; atravessa as promessas contidas num “humanismo em expansão”, contra um “humanismo de compressão”, superando até mesmo o dualismo excludente interno à alternativa entre violência e não violência, entre valores e fatos, na vertente da violência capitalista e da violência comunista; enfim, persegue um grande projeto antidualista e antirreducionista, voltando até a pintura de Leonardo Da Vinci: pensada na obra do gênio italiano explicitamente sob forma de filosofia, essa pintura se tornou – ao ver do filosofo francês – o anúncio de uma frequentação dos inúmeros lados da Natureza, entendida como “solo” (Boden) da nossa relação antidualista e antirreducionista com os outros seres e entes. A fecundidade contida na  abrangência da interrogação merleau-pontiana pode ser apreciada hoje não apenas nas questões centrais da Filosofia, mas também em relação às ciências e a todos os outros saberes. Se, no passado, foi muito menos conhecido do que o amigo Jean-Paul Sartre, sobretudo desde as últimas três décadas, Merleau-Ponty é unanimemente considerado como uns dos maiores pensadores do século XX pela sua leitura crítica ‘radical’ da condição humana, cujo ‘impensado’ ainda precisa ser pensado.


Autor: Prof. Dr. Fabio Di Clemente (UFMT)

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